Não é de hoje que a Escola 25 de Julho de Picada Café trabalha com projetos de pesquisas integrando as diferentes disciplinas do conhecimento, proporcionando aulas mais interativas, dinâmicas e diferenciadas. Segundo o aluno Mateus Krein, “trabalhar por projetos, é interagir com a comunidade, conhecer novos lugares e ampliar o conhecimento de mundo”.
Ainda no primeiro semestre, durante a expedição investigativa, a turma do sétimo ano mostrou interesse em participar da 6ᵃ Olimpíada de Língua Portuguesa através do Projeto Memórias Literárias. Assim, os professores e a turma direcionaram o Projeto para a importância das memórias na formação da identidade pessoal, resgatando, assim, de certa forma, a história dos antepassados.
A pesquisa envolveu estúdios, leituras, entrevistas, visitas e rodas de conversa com pessoas da comunidade local e palestras.
Josiane Malmman - historiadora e professora – foi uma das convidadas pelos alunos para conversar sobre memórias. A partir dessa reflexão, o grupo demonstrou curiosidade e interesse em conhecer mais sobre as origens e histórias dos seus antepassados.
Outra ilustre presença foi a historiadora e professora Ângela Tereza Sperb, que falou sobre as identidades multiétnicas do povo brasileiro.
Houveram outros momentos importantes, como a Roda de Conversa na Casa de Cultura Joaneta e a ida ao Museu Histórico Visconde de São Leopoldo.
Destaca-se também que, os alunos realizaram as oficinas propostas pelo Programa Escrevendo o Futuro do Ministério da Educação, enriquecendo seu conhecimento sobre narrativas literárias.
A culminância do projeto foi a escrita de narrativas literárias e a seleção de um texto para representar a escola na 6ᵃ Olimpíada de Língua Portuguesa. Dos 29 textos escritos pelos alunos, os dez melhores foram analisados por uma comissão composta por Fernanda Holz Rissi, Maiquel Laux, Luiz Werle, Claudiana Zuge e Glauber West. O texto da aluna Ludmila Raíssa de Jesus foi o escolhido pela comissão para participar da 6ᵃ Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa. Raíssa enriqueceu a sua narrativa com o depoimento de Liane Fenner, moradora do município. O texto de Aluna Ludmila foi selecionado pela Equipe do Escrevendo Futura para participar da Etapa Estadual da Olimpíada de Língua Portuguesa. A partir de 26 de setembro serão feitas as seleções dos textos que vão disputar a etapa nacional. Ressaltando ainda que a metodologia de projetos na Escola conta com o apoio do Programa União Faz a Vida, da Sicredi Pioneira.
O texto finalista!
Cerejeira
Em mil, novecentos e oitenta e dois, uma enchente aconteceu em Picada Café, que ficou marcada em minha memória. Em meio a choros e soluços, muitas pessoas tiveram perdas materiais, entretanto, não houve morte humana.
Era uma noite fria e chuvosa, com ventos ameaçadores. Os galhos de uma velha cerejeira batiam contra o edifício, onde eu morava, com tanta força que eu pulei do sofá assustada, preocupada que as batidas pudessem quebrar o vidro da janela e os estilhaços me machucassem.
Depois de um tempo, a chuva diminuiu, eu já estava na cama tentando dormir, entretanto, ainda estava preocupada. Todos já estavam dormindo no conforto de suas casas quando meus olhos finalmente se fecharam, eu já não tinha mais a noção de tempo, nem me assustava mais com os raios e trovões.
Foi quando o vento soprou o galho da cerejeira com toda a força, que o vidro da janela da sala quebrou, fazendo uma barulheira. Assustada, caí da cama, no chão úmido. Foi aí que percebi que a casa estava inundada. Agora mais assustada ainda, sai correndo para o quarto dos meus pais gritando para mamãe e papai acordarem, pois, a casa estava sendo invadida pelas águas da chuva. Meus pais acordaram e se arrumaram com pressa, mas eu estava tão assustada que apenas coloquei um par de botas e um casaco para ser mais rápida.
Saímos caminhando sem saber para onde ir para nos salvar, então seguimos uma família que parecia bem confiante de onde deveriam ir, mas quando chegamos na casa da Norma Dhein, vimos a ponte de ferro derrubada e a minha volta, crianças em meias as lágrimas e apavoradas e os adultos desnorteados com a situação. Então, chorando e aos soluços, pensei: - “Bem, poderia ter sido pior, o bom é que não fomos carregados pelas águas da enchente e que eu e minha família estamos juntos”.
Quando a água da enchente baixou, Picada Café voltou a ser o que era antes. Tudo o que ela destruiu, foi reconstruído, apenas o galho da cerejeira demorou um pouco mais para florescer novamente. Pelas ruas, a alegria voltou a reinar e em minha casa tudo voltou a ser como era antes.
Ludmila Raíssa de Jesus
Texto e Imagem Marco Dieder